O ar-condicionado é um dos eletrodomésticos mais utilizados em residências e empresas no Brasil, especialmente durante o verão. No entanto, também é um dos equipamentos que mais geram dúvidas sobre consumo de energia e eficiência energética.
Muitas práticas adotadas no dia a dia são baseadas em informações equivocadas que, além de ineficientes, podem aumentar significativamente o gasto com eletricidade. Por outro lado, medidas simples e comprovadas tecnicamente podem reduzir o consumo sem comprometer o conforto térmico.
Este artigo apresenta orientações técnicas para consumidores e profissionais de climatização, desmentindo mitos comuns e destacando verdades comprovadas sobre o uso eficiente de sistemas de ar-condicionado.
Mitos Comuns Sobre o Consumo de Energia do Ar-Condicionado
Mito 1: Manter o aparelho ligado o dia todo consome menos energia
Realidade: Embora o ar-condicionado consuma mais energia durante a fase inicial de resfriamento, manter o aparelho ligado por longos períodos pode aumentar o consumo total. O equipamento continua trabalhando para compensar as trocas de calor com o ambiente, especialmente em espaços mal isolados.
Recomendação técnica: Desligue o aparelho quando o ambiente estiver vazio e religue apenas quando necessário. Para uso contínuo, invista em modelos com tecnologia inverter, que ajustam a potência automaticamente.
Mito 2: Configurar em 17°C resfria o ambiente mais rápido

Realidade: Configurar o termostato para temperaturas muito baixas não acelera o processo de resfriamento. O aparelho trabalha sempre na mesma velocidade para atingir a temperatura programada, mas consome significativamente mais energia ao tentar manter temperaturas extremas.
Segundo orientações do Inmetro, cada grau abaixo de 23°C pode aumentar o consumo em até 7%.
Recomendação técnica: Ajuste o termostato para 23°C, faixa que equilibra conforto térmico e eficiência energética. O modo “Turbo” ou “Max” pode ser usado por 10 a 15 minutos iniciais, seguido de ajuste para a temperatura recomendada.
Mito 3: Tecnologia inverter não traz economia real
Realidade: Sistemas inverter são comprovadamente mais eficientes que modelos convencionais. A tecnologia ajusta continuamente a velocidade do compressor conforme a necessidade, evitando ciclos de liga-desliga e os picos de consumo associados.
Dados técnicos (equipamento 12.000 BTU/h):
- Modelo convencional: aproximadamente 1.500 kWh/ano
- Modelo inverter: aproximadamente 900 kWh/ano
- Economia: até 40% (fonte: Procel)
Mito 4: Manutenção só é necessária quando o aparelho apresenta defeito
Realidade: A manutenção preventiva é essencial para manter a eficiência energética. Filtros sujos comprometem a circulação do ar e forçam o sistema a trabalhar mais, aumentando o consumo de energia.
Cronograma de manutenção recomendado:
- Limpeza de filtros: a cada 15 dias
- Limpeza de serpentina e condensador: a cada 6 meses (manutenção profissional)
- Verificação de gás refrigerante: anualmente

Mito 5: Fechar todos os cômodos sempre reduz o consumo
Realidade parcial: Fechar portas e janelas ajuda a manter o ambiente climatizado, mas se o aparelho estiver superdimensionado para o espaço, ele pode entrar em ciclagem excessiva (ligar e desligar com frequência), o que aumenta o consumo.
Recomendação técnica: Dimensione corretamente a capacidade do equipamento (BTU/h) de acordo com o tamanho do ambiente, considerando fatores como pé-direito, incidência solar, número de ocupantes e equipamentos geradores de calor.
Verdades Comprovadas Sobre Eficiência Energética
A classificação energética impacta diretamente o consumo
O Inmetro classifica os aparelhos de ar-condicionado em uma escala de A (mais eficiente) a F (menos eficiente). Segundo Hércules Souza, chefe da Divisão de Regulamentação e Qualidade Regulatória do Inmetro, observar essa classificação é fundamental antes da compra.
Modelos classificados como “A” ou com selo Procel A podem consumir até 60% menos energia que equipamentos antigos ou de baixa eficiência. O investimento inicial maior é compensado pela economia ao longo da vida útil do aparelho.
O Inmetro disponibiliza uma tabela online com todos os modelos etiquetados, permitindo comparação técnica antes da aquisição.
O isolamento térmico do ambiente é determinante
Espaços mal vedados em portas e janelas permitem a entrada de ar quente, obrigando o aparelho a trabalhar continuamente para compensar a carga térmica adicional.
Medidas eficazes de isolamento:
- Instalação de veda-portas e veda-janelas
- Uso de cortinas, persianas ou películas de controle solar
- Fechamento de cortinas durante o dia, especialmente em janelas com incidência solar direta
- Pode reduzir o consumo em até 20% quando combinado com ventilação auxiliar
A localização da unidade condensadora afeta o desempenho
Se a condensadora estiver instalada em local com alta incidência solar ou ventilação inadequada, o sistema precisará trabalhar mais para dissipar o calor, aumentando o consumo energético.
Recomendação técnica: Instale a condensadora em locais sombreados e bem ventilados, evitando superfícies que acumulem calor.
Ventiladores auxiliam na distribuição do ar climatizado
O uso de ventiladores de teto ou de mesa em conjunto com o ar-condicionado melhora a distribuição do ar frio, permitindo ajustar o termostato para temperaturas menos baixas sem perder conforto.
Benefício comprovado: Pode reduzir o consumo em até 20% quando utilizado de forma estratégica.
Fontes internas de calor aumentam a carga térmica
Equipamentos como computadores de alta potência, fornos, lâmpadas incandescentes e outros geradores de calor aumentam a carga térmica do ambiente, exigindo mais do sistema de climatização.
Recomendação técnica: Minimize o uso de fontes de calor durante o funcionamento do ar-condicionado e opte por iluminação LED, que gera menos calor.

Tecnologias que Aumentam a Eficiência Energética
Tecnologia Inverter
Ajusta continuamente a velocidade do compressor conforme a demanda térmica, eliminando os picos de consumo dos ciclos de liga-desliga dos modelos convencionais.
Controle por Wi-Fi e automação
Permite programação remota e ajuste de temperatura, possibilitando desligar o aparelho à distância ou programar horários de funcionamento. Alguns modelos integram-se a sistemas de automação residencial.
Sensores de presença
Equipamentos mais avançados possuem sensores que detectam a ausência de ocupantes e ajustam automaticamente a potência ou desligam o sistema, otimizando o consumo.
Modo Eco
Otimiza o funcionamento do compressor e do ventilador para equilibrar conforto e eficiência, priorizando a redução do consumo sem comprometer significativamente o desempenho.
Práticas Recomendadas Para Uso Eficiente
- Configure a temperatura entre 23°C e 25°C – faixa que proporciona conforto térmico com consumo otimizado
- Realize manutenção preventiva regular – siga o cronograma de limpeza de filtros e revisões profissionais
- Utilize cortinas e persianas – bloqueie a incidência solar direta durante o dia
- Dimensione corretamente o equipamento – escolha a capacidade (BTU/h) adequada ao ambiente
- Desligue o aparelho em ambientes vazios – se o espaço ficará desocupado por mais de 30 minutos
- Vede portas e janelas – elimine frestas que permitem entrada de ar quente
- Escolha modelos eficientes – priorize classificação A do Inmetro e tecnologia inverter
- Evite fontes de calor internas – minimize o uso de equipamentos que aumentam a carga térmica
FAQ — Economia de Energia com Ar-Condicionado

Considerações Finais
O uso eficiente do ar-condicionado depende de três fatores principais: escolha adequada do equipamento, instalação correta e práticas conscientes de operação. Segundo Márcio André Brito, presidente do Inmetro, “orientar o consumidor para que possa tomar decisões informadas tanto na compra quanto no uso diário garante eficiência energética e economia”.
Investir em modelos com tecnologia inverter e classificação energética A, realizar manutenção preventiva e adotar práticas simples de uso podem reduzir significativamente o consumo de energia sem comprometer o conforto térmico, especialmente em regiões de clima tropical.
A conscientização sobre o uso responsável de sistemas de climatização contribui não apenas para a economia individual, mas também para a sustentabilidade energética coletiva.
